segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Progressos recentes e novas perspectivas em farmacoterapia da obesidade



Essa medicação foi inicialmente desenvolvida para o tratamento do DM2 e mostrou-se benefica para o controle glicemico em doses ate 1,8 mg/dia. Demonstrou, tambem, no tratamento de diabéticos tipo 2, gerar uma perda de peso dose-dependente, e, ao mesmo tempo, diminuir as concentrações de HbA1c (hemoglobina glicosilada) e melhorar a função da célula β (beta). Os mecanismos mediadores na redução de peso pelo liraglutide são provavelmente relacionados a uma combinação de efeitos no trato gastrointestinal (TGI) e no cérebro. O GLP-1(hormônio emagrecedor) ativo inibe o apetite e o aporte energético tanto em indivíduos normais quanto em obesos, assim como em pacientes com DM2, além de retardar o esvaziamento gastrico.
Comprovou-se a eficácia dessa droga também em modelos animais, com redução de peso e da ingestão alimentar em ratos e porquinhos tratados. Considerando o potencial da medicação como adjuvante no tratamento da obesidade, mesmo em pacientes nao diabéticos, desenvolveu-se um estudo para avaliar a eficácia, seguranca e tolerabilidade do liraglutide no tratamento de pacientes obesos não diabéticos, com doses mais elevadas do que as previamente utilizadas para o tratamento do DM2.
Quinhentos e sessenta e quatro pacientes foram randomizados a receber liraglutide (1,2 mg, 1,8 mg, 2,4 mg ou 3,0 mg uma vez ao dia por via subcutânea, n = 90-95 cada), placebo (uma vez ao dia por via subcutânea, n = 98) ou orlistate (120 mg três vezes ao dia por via oral, n = 95). Após a triagem, os pacientes recebiam placebo de modo único-cego por duas semanas e eram orientados a fazer uma dieta pobre em gordura com déficit de 500 kcal/dia e intensificação de atividade física. Nas quatro semanas subsequentes, realizava-se a titulação da dose do liraglutide e, posteriormente, cada grupo se mantinha com uma dose constante por 16 semanas.  O estudo, portanto, era cego para medicação ou placebo, mas não para a dose administrada. Quatrocentos e setenta e dois pacientes (84%) completaram o estudo. Após 20 semanas, a perda de peso foi de 2,8 kg no grupo placebo, 4,1 kg no orlistate e 4,8; 5,5; 6,3 e 7,2 kg no grupo liraglutide, o que corresponde a uma PPSP de 4,5% no grupo que usou a maior dose de 3,0 mg. A proporção de indivíduos com mais de 5% de perda do peso inicial foi maior em quem usou liraglutide em comparação ao placebo (61% vs. 29%). Mais indivíduos tratados com a dose de 3,0 mg perderam mais que 5% do peso inicial do que os tratados com orlistate (76% vs. 44%). Houve diminuição da PA sistólica e diastólica em todos os grupos, consistente com a perda de peso. A prevalência de prediabetes reduziu entre 84% e 96% com liraglutide 1,8; 2,4 e 3,0 mg, com uma queda na glicemia de jejum por volta de 7% a 8%. A HbA1c tambem apresentou diminuição discreta em comparação ao placebo e orlistate, variando de 0,14% com liraglutide 1,2 mg a 0,24% com a dose de 3,0 mg. Não houve diferenca em relação aos lípides, fato que os autores atribuiram provavelmente a realização da dosagem basal somente no início do tratamento, e não na triagem três semanas antes. Considerou-se que a perda de peso conseguida nesse período inicial pode ter ocultado possíveis mudancas benéficas no perfil lipidico. Em relação a qualidade de vida, observou-se melhora nos escores de função física e de autoestima com a dose de 3,0 mg em comparação ao orlistate e placebo.A frequência de efeitos colaterais foi discretamente maior nos grupos liraglutide 1,8; 2,4 e 3,0 mg. Os eventos mais comumente reportados foram náuseas e vômitos, que ocorreram sete vezes mais com as doses de 2,4 e 3,0 mg em comparação ao placebo. Na grande maioria, esses eventos eram transitórios e de leve a moderada intensidade, e sua frequência aumentava com a dose. A tendência desses efeitos era diminuir a partir da 4a. semana, atingindo um platô por volta da 12a. semana. A taxa de abandono global dos pacientes tomando a medicação variou de 11% a 22%, sendo por volta de metade dos casos diretamente relacionados a efeitos colaterais. Oito (2,2%) pacientes tomando liraglutide abandonaram o estudo por conta de náuseas e cinco (1,3%) por vômitos. Alterações psiquiátricas foram ligeiramente mais frequentes nas pessoas tratadas com liraglutide 2,4 mg e 3,0 mg que no grupo placebo – as mais comuns sendo insônia (6 eventos), humor deprimido (3 eventos) e nervosismo (2 eventos). Não houve incidência maior de depressão e ansiedade no grupo tratado. A FC (frequência cardíaca) teve leve aumento com o uso do liraglutide (ate 4 bpm) em comparação ao placebo e orlistate. Eventos cardiovasculares foram infrequentes e palpitações leves foram reportadas por 1% a 4% dos indivíduos recebendo a medicação. Houve um caso de fibrilação atrial em uma mulher de 51 anos tratada com liraglutide 3,0 mg após 140 dias, sem outros eventos graves relatados. Devido ao achado em modelos experimentais de carcinogênese aumentada de células parafoliculares de tireóide em ratos tratados com liraglutide, dosou-se a calcitonina sérica de todos os pacientes, sem nenhum efeito significativo observado. Nenhum caso de pancreatite foi descrito durante o periodo do estudo.
Fonte:
Recent progress and novel perspectives on obesity pharmacotherapy
André M. Faria1, Marcio C. Mancini1,2, Maria Edna de Melo1,2,
Cintia Cercato1, Alfredo Halpern1Liraglutide 
http://www.scielo.br/pdf/abem/v54n6/03.pdf

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