Essa medicação foi inicialmente
desenvolvida para o tratamento do DM2 e mostrou-se benefica para o controle glicemico em doses ate 1,8 mg/dia. Demonstrou, tambem, no tratamento de
diabéticos tipo 2, gerar uma perda de peso dose-dependente,
e, ao mesmo tempo, diminuir as concentrações de HbA1c (hemoglobina glicosilada) e melhorar a função da célula β (beta). Os mecanismos mediadores na redução de peso pelo liraglutide são
provavelmente relacionados a uma combinação de efeitos no trato gastrointestinal (TGI) e no cérebro. O
GLP-1(hormônio emagrecedor) ativo inibe o apetite e o aporte energético
tanto em indivíduos normais quanto em obesos, assim como
em pacientes com DM2, além de retardar o
esvaziamento gastrico.
Comprovou-se a eficácia dessa droga também em modelos animais, com redução de peso e da ingestão alimentar em ratos e porquinhos
tratados. Considerando o potencial da medicação como
adjuvante no tratamento da obesidade, mesmo em pacientes nao diabéticos, desenvolveu-se um estudo para avaliar a eficácia, seguranca e tolerabilidade
do liraglutide no tratamento de pacientes obesos não
diabéticos, com doses mais elevadas do que as previamente
utilizadas para o tratamento do DM2.
Quinhentos e sessenta e quatro pacientes foram randomizados a
receber liraglutide (1,2 mg, 1,8 mg, 2,4 mg ou 3,0 mg uma vez ao dia por via subcutânea, n = 90-95
cada), placebo (uma vez ao dia por via subcutânea, n =
98) ou orlistate (120 mg três vezes ao dia por via
oral, n = 95). Após a triagem, os pacientes recebiam
placebo de modo único-cego por duas semanas e eram
orientados a fazer uma dieta pobre em gordura com déficit
de 500 kcal/dia e intensificação de atividade física.
Nas quatro semanas subsequentes, realizava-se a titulação
da dose do liraglutide e, posteriormente, cada grupo se
mantinha com uma dose constante por 16 semanas. O estudo,
portanto, era cego para medicação ou placebo, mas não para a
dose administrada. Quatrocentos e setenta e dois
pacientes (84%) completaram o estudo. Após 20 semanas, a
perda de peso foi de 2,8 kg no grupo placebo, 4,1 kg
no orlistate e 4,8; 5,5; 6,3 e 7,2 kg no grupo
liraglutide, o que corresponde a uma PPSP de 4,5% no grupo
que usou a maior dose de 3,0 mg. A proporção de
indivíduos com mais de 5% de perda do peso inicial foi
maior em quem usou liraglutide em comparação ao
placebo (61% vs. 29%). Mais indivíduos tratados com a dose de 3,0 mg perderam mais que 5% do peso inicial do
que os tratados com orlistate (76% vs. 44%). Houve diminuição da PA sistólica e diastólica em todos os grupos, consistente com a perda de peso. A prevalência
de prediabetes reduziu entre 84% e 96% com liraglutide 1,8; 2,4
e 3,0 mg, com uma queda na glicemia de jejum por
volta de 7% a 8%. A HbA1c tambem apresentou diminuição discreta em comparação ao placebo e orlistate,
variando de 0,14% com liraglutide 1,2 mg a 0,24% com a
dose de 3,0 mg. Não houve diferenca em relação aos
lípides, fato que os autores atribuiram provavelmente a
realização da dosagem basal somente no início do
tratamento, e não na triagem três semanas antes.
Considerou-se que a perda de peso conseguida nesse período inicial
pode ter ocultado possíveis mudancas benéficas no
perfil lipidico. Em relação a qualidade de vida, observou-se
melhora nos escores de função física e de autoestima com a dose de 3,0 mg em comparação ao orlistate e
placebo.A frequência de efeitos colaterais foi
discretamente maior nos grupos liraglutide 1,8; 2,4 e 3,0 mg.
Os eventos mais comumente reportados foram náuseas
e vômitos, que ocorreram sete vezes mais com as
doses de 2,4 e 3,0 mg em comparação ao placebo. Na
grande maioria, esses eventos eram transitórios e de
leve a moderada intensidade, e sua frequência aumentava
com a dose. A tendência desses efeitos era diminuir
a partir da 4a. semana, atingindo um platô por volta da
12a. semana. A taxa de abandono global dos pacientes
tomando a medicação variou de 11% a 22%, sendo por volta de metade dos casos diretamente
relacionados a efeitos colaterais. Oito (2,2%) pacientes
tomando liraglutide abandonaram o estudo por conta de náuseas e cinco (1,3%) por vômitos. Alterações
psiquiátricas foram ligeiramente mais frequentes nas pessoas tratadas com liraglutide 2,4 mg e 3,0 mg que no grupo
placebo – as mais comuns sendo insônia (6 eventos),
humor deprimido (3 eventos) e nervosismo (2 eventos).
Não houve incidência maior de depressão e ansiedade
no grupo tratado. A FC (frequência cardíaca) teve leve aumento com o uso
do liraglutide (ate 4 bpm) em comparação ao placebo
e orlistate. Eventos cardiovasculares foram
infrequentes e palpitações leves foram reportadas por 1% a 4%
dos indivíduos recebendo a medicação. Houve um caso
de fibrilação atrial em uma mulher de 51 anos
tratada com liraglutide 3,0 mg após 140 dias, sem outros
eventos graves relatados. Devido ao achado em modelos
experimentais de carcinogênese aumentada de células
parafoliculares de tireóide em ratos tratados com liraglutide, dosou-se a calcitonina sérica de todos os
pacientes, sem nenhum efeito significativo observado. Nenhum
caso de pancreatite foi descrito
durante o periodo do estudo.
Fonte:
Recent progress and novel perspectives on obesity pharmacotherapy
André M. Faria1, Marcio C. Mancini1,2, Maria Edna de Melo1,2,Cintia Cercato1, Alfredo Halpern1Liraglutide
http://www.scielo.br/pdf/abem/v54n6/03.pdf
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